18/07/07

«Porque»

Ainda existem aqueles que, convicta e quase orgulhosamente se auto-denominam de humanos. Outros, por sua vez, perguntam-se... Não interessa o quê ou porque o fazem, fazem-no. Pois existirá afirmação mais complicada do que a de ser, ainda para mais, de ser e ter a humana consciência disso?
A superioridade é apregoada, os motivos que à superioridade levaram, esquecidos, não no tempo mas na memória. Se são os outros que vivem automaticamente, porque somos nós quem procura a automatização? E se o fazemos, porque somos ainda e sempre tão racionalmente irracionais, tropeçando perplexos nos mesmos poços de pensamento físico em que todos os outros tropeçaram ou tropeçariam?
É relativamente fácil dizer «porque» quando se julga saber uma resposta, já perguntar «porquê» exige racionalização. As perguntas são irrevogavelmente humanas, pelo menos as que não têm resposta. Somos criaturas a quem dispensaram demasiado tempo. Não há outro animal que se debata com existencialismos ocos, quando a sobrevivência, afinal, é também uma questão de tempo. Por isso os filósofos são pacíficos e a filosofia para os tempos de paz. Quando se tenta existir a todo o custo, é impensável perguntar «porquê». A única resposta seria mesmo «porque sim».


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